Após 25 anos de espera, Claudia e Márcio realizam sonho de viver na estrada
A aventura a dois é feita a bordo de Maria Clotilde, uma Van charmosa planejada sob medida pelo casal
22 OUT 2019 • POR • 10h50Foi logo no início do relacionamento, que a paixão de Márcio Júlio de Oliveira, de 48 anos, por viagens pegou de jeito a esposa Cláudia Lúcia Mendes Xavier Oliveira, de 49 anos. Desde, então, a meta do casal de Juiz de Fora (MG) era sair de moto Brasil afora, mas as prioridades impostas pela vida deixaram o sonho adormecido por mais de duas décadas. Em 2017, uma visita ao filho que mora em Campo Grande, ressuscitou a “formiguinha aventureira” e os planos, finalmente, saíram do papel.
Apesar do ritmo da vida tomar diversos rumos, o sonho de cair na estrada nunca morreu. Ele só precisava de um empurrãozinho para despertar. A bordo da Maria Clotilde, o maquinista e a pedagoga, hoje aposentados, desfrutam dos prazeres de novas paisagens, ares e amizades.
“Quando a gente era mais novo, a intenção era esperar os meninos crescerem e assim que chegasse a aposentadoria sairmos de moto e barraca. Mas a idade vai chegando, as coisas vão mudando e como fiz duas cirurgias na coluna, para ficar em barraca não dava. Há cinco anos, meu marido teve a ideia de vender nossa casa e comprar um barco, mas não era minha praia porque morro de medo de relâmpago e numa tempestade eu iria querer sair correndo. No ano retrasado, viemos a Campo Grande, porque o meu filho, que é militar da Aeronáutica, veio transferido para cá. Gostei muito da cidade e a “formiguinha” começou a coçar novamente”, lembra Cláudia.
Assim que o casal retornou a Juiz de Fora assistiu a um vídeo de um ônibus transformado em casa. Cláudia chegou a dizer que se fosse para vender a casa e morar num veículo daquele toparia na hora. As pesquisas continuaram até chegarem a Van. O casal tinha uma caminhonete Mitsubishi L200 e junto às economias dos últimos anos iniciaram o investimento de suas vidas.
Foram quatro meses só de pesquisa e planejamento e mais de um ano para montagem ideal da nova casa, que está há dois meses rodando por rodovias estaduais e federais. “Vendemos nosso carro, compramos a Van e levamos a São Paulo para adaptar a mobília e há dois meses estamos viajando”, conta Claudia.
Os primeiros trajetos foram nos arredores de Juiz de Fora. “As primeiras viagens foram próximas para testar mesmo. Saber quanto tínhamos de autonomia, de água, de energia. Hoje sabemos que a placa solar instalada no teto dá autonomia de até oito dias, mesmo com o clima nublado. Se o tempo estiver ensolarado é tranquilo. Normalmente, nos postos que abastecemos, eles sempre fornecem água, energia e o lugar para ficar”, pontua Claudia.
O nome da Van homenageia as avós do casal. “Nossas avós sempre gostaram de viajar, minhas avós materna e paterna são Marias. A avó materna dele também se chamava Maria e a paterna Clotilde. Então juntamos as três Marias e Clotilde”, explica.
O casal usa as redes sociais para conhecer e também indicar lugares que gostaram de visitar. As postagens já surtem efeito e alguns seguidores já agradecem as dicas.
A parte técnica é toda explicada por Márcio, que fez todo o acabamento da casa, como a cozinha. Com cada detalhe escolhido pelo casal, a casa foi planejada de forma funcional e segura com duas baterias recarregáveis e estrutura composta por alarmes.
“É a forma mais fácil de conhecer nosso país. Meu pai sempre acampou e eu cresci com essa paixão. E para uma viagem mais confortável, sem precisar de hospedagem ou gastar com a alimentação, a Van foi a saída. Achamos quem montava e adaptamos a placa solar, o alternador do carro, duas baterias de 240 watts cada uma. Para você ter uma ideia estamos desde o dia 1º sem recarregar o carro”, conta.
Márcio garante que não é nada fácil transformar um veículo em casa e demanda muita pesquisa, como o tipo do carro, o tipo de rodagem, se é tração dianteira ou traseira. No caso de Maria Clotilder, a tração é traseira, porque há mais peso atrás.
“Tínhamos três opções, mas fomos descartando algumas por causa da coluna dela (Cláudia). Pensamos em colocar um camper na pick up, pensamos na Kombi, mas era muito baixa. Aí decidimos que tinha de ser um carro alto. Uma Van normal tem muito vidros que podem ser quebrados. Aí chegamos ao tipo furgão com janelas pequenas”, conta.
Outros métodos de seguranças usados por Márcio e Cláudia são o iOverlander, que indica locais mais seguros a se parar e “Apoiadores de Motorhome”, que cedem quintais para que viajantes estacionem.
A partida de Minas Gerais para Mato Grosso do Sul aconteceu depois de Maria Clodilde participar do primeiro encontro de motorhome, em São Lourenço. Como os dois estão livres e nenhum compromisso acelera a viagem, antes de chegar a Capital Morena, o casal ficou dois dias em Ilha Solteira (SP). Cláudia e Márcio devem passar as festas de fim de ano com o filho mais velho e pegar a estrada novamente em janeiro.
Depois de Campo Grande, a ideia é cruzar a Estrada Parque com destino ao Pantanal sul-mato-grossense. Márcio, que além de aventureiro, é mestre cervejeiro, já tem convite para participar de um festival no Rio Grande do Sul.
“Depois do Pantanal, vamos a Goiás, Brasília e um amigo quer que eu desça para o Rio Grande do Sul onde terá um encontro de cervejeiros”, conta.
O filho mais velho, o militar Iago Xavier de Oliveira, de 26 anos, apoia a iniciativa dos pais, porque agora as visitas podem ser mais longas. “Acho a ideia legal, porque eles estão passeando bastante e conhecendo o Brasil. Depois de ficarmos cinco anos longe, agora eles podem me visitar por mais tempo. E eu já avisei meu pai, que se ele quiser comprar uma melhor, já pode me passar essa”, disse Iago.
A bordo de Maria Clotilde os visitantes entram, em princípio, numa sala de jantar, mas que também serve para os horários de café da manhã, almoçou ou chá da tarde. O pequeno corredor tem um banheiro ao lado direito e um guarda roupa embutido ao lado esquerdo. A cama do casal fica ao fundo da Van. Uma mini máquina de lavar é sensação, por onde quer que passe. “Ela lava uma calça e quatro camisas”, ressalta Márcio.
O filho caçula permanece em Juiz de Fora, onde conclui a faculdade. O coração de mãe é infalível na hora de sentir saudade, mas a vontade de voltar para casa, é zero.
Encanamento e cozinha externa foram feitas por Márcio, para que na hora do aperto ele mesmo saiba consertar. Todo o investimento entre a compra e a montagem custaram R$ 160 mil.
Nunca desistir – O casal garante que mesmo após muitos anos, nunca desistiu da meta. A abdicação de muitas coisas e a parceria entre marido e mulher também foram fatores importantes.
“Tem que estudar, tem que ter objetivo. Saber qual será o carro. Saber qual será a finalidade”, frisa Márcio.
“É meio clichê, mas é a verdade, não dá para desistir. Nós também temos muita fé em Des e nunca deixamos de conversar com Ele e sempre tivemos persistência. Para construir nossa casa abrimos mão de muitas coisas, depois para fazer o carro abrimos mão de outras e sempre tivemos união. Não adianta só um batalhar pelo sonho. Juntamos nossos rendimentos, foi colocado tudo. A união faz a força” finalizou Cláudia.
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